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sexta-feira, 19 de junho de 2009

E ela espera.
De novo.

Sua vida inteira havia sido uma constante espera, mesmo que ela não tenha se dado conta disso. Esperou pela primeira boneca, pela primeira maquiagem, pela autorização dos pais para fazer o segundo furo na orelha, esperou pelo primeiro beijo – como esperou! – , esperou que alguém lhe dissesse que todos os boatos sobre fadas serem falsas eram mentira e, quando eles não disseram, ela se desesperou. E depois só esperou o desespero passar, e realmente acreditou que ele tenha passado. Mas será que ele passou?
Depois, ela esperou pelo pedido de namoro. Uma vez. Duas, três. E muitas outras vezes. Até que um aconteceu e a fez perceber que namorar não era exatamente aquilo que ela esperava. Então foi embora e esperou a mágoa passar. Essa passou, cicatrizou, mas deixou uma marquinha branquinha, bem fininha, quase imperceptível, mas que estava lá.
Aí ela esperou pela lista. A lista de aprovados no vestibular, a lista de empregos, de promoções de viagens, de carros e imóveis a venda. Esperou pela inspiração pra fazer a tatuagem certa. Quando teve a ideia perfeita, mostrou-a à mãe, esperando pela reprovação. Não a recebeu. Estranhou. Aceitou feliz. Olhou pra irmã, esperando que ela lhe dissesse “uau, que legal”, ou algo assim, e ela disse exatamente isso. Que bom que disse.
Uma vez. Duas vezes. Três vezes. Muitas vezes. Ela esperou e esperou pelo homem dos seus sonhos, até que um dia ele apareceu, e no outro ele se foi. Aliás, não foi ele que se foi, apenas o sonho tinha mudado. Nascera um outro, bem bonitinho e gordinho, de perninhas flácidas. Chamava-se Alice.
Então, o sonho foi crescendo, e ela esperando que ele pedisse a boneca, a maquiagem, o segundo furo, escondesse o primeiro beijo. Esperou que ele se tornasse um sonho meigo e doce. Inteligente, bem educado, culto. Afinal, quantas horas ela havia passado apresentando livros e autores e compositores e instrumentos e quadros a ele? E o sonho cresceu. Ficou bem grande. Uns 55 quilos, 1,63 metros. É, já era maior do que ela. E ele não era tão culto assim, nem tão meigo. Mas era engraçado, muito feliz. Trazia-lhe mais alegria do que poderia prever.
Depois de tudo isso, ela esperou a aposentadoria: e ela chegou! Guardou o dinheiro e esperou o verão para ir a um lugar paradisíaco fugindo do mundo. Mas o seu salário não era tão grande assim, então ela esperou uma boa promoção para parcelar em 12 vezes sem juros sua viagem de 15 dias para X. E ela esperou pelas semanas. E nas semanas, esperou que cada dia se arrastasse como três. E esperou conseguir fugir. Não fugiu, Voltou morrendo de saudade de Alice.
Do que mais poderia ter sentido saudade?
De si, talvez. De tanto esperar pelos outros, talvez tenha esquecido no caminho, derrubado, por acaso, uma parte importante que compunha seu ser. Ou não. Ela não sabia. Nem a gente sabe.
Mas, enfim, ela voltou para Alice.
E esperou.
Esperou pelo seu abraço. E o recebeu bem apertado. E, então, toda a espera de uma vida toda valera apena.