E o quarto sufocara. A respiração parecera ser reprimida lentamente. Fora como se os brônquios, vias, pulmões e todo o resto houvesse se fechado. A visão, latejante, ardera. Os olhos vermelhos marejaram-se pouco a pouco. Ali tudo fora pesado, sóbrio demais, tenso em excesso. As paredes diminuíram lenta e desconfortavelmente num ritmo descompassado. Agoniados, aqueles dois pares de olhos esvaziaram-se e inundaram-se periodicamente, sem nenhum intervalo destoante. Fora aquilo, e o que mais? Só aquilo, talvez.
...
As mãos entrelaçaram-se, quase que lacivas. Inicialmente, ela apertou os próprios dedos pensando ser os dele. Mais tarde, segurou outras mãos, mas que ainda não o pertenciam. Os lábios roçaram-se despudoradamente, aquecendo-se. Os corpos se tocaram de modo frenético, ofegantes, descompassados. Os corações acelerados tamborearam em uníssonos particulares. Estreitos. Estreitas. Sem mais espaços. O calor subiu, flamejou, queimou cada extremidade daquele, então, único ser. Enfim, o ardor.
...
Acorda no meio da madrugada, incomodada com o silêncio. Ao lado os cabelos castanhos repousam languidamente sobre os lençóis bagunçados. Senta-se e observa. Vê aquelas paredes tantas vezes confidentes e que, agora, lhe parecem opressoras, mostrando-lhe forçosamente aquele arfar de outrora. Segura as mãos do outro e as acaricia. Finalmente pode senti-las no seu emaranhado particular. Porém, aquilo que se apresenta de si e sobre si já não diz mais respeito a ela.
Recolhe as roupas, espalha alguns cacos, e, finalmente, vai embora do seu quarto de dormir.
1 comentários:
UOUU!!você me surpreendeu muito!!
Seu jeito de escrever me entreteve...(digamos que essa não é mera tarefa =] )
Parabéns!
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