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quarta-feira, 25 de março de 2009

Ela está parada diante do espelho olhando atentamente para todas as marcas de seu rosto. Observa com incômodo os efeitos causados pela choradeira da noite anterior: os olhos estão inchados, a pele possui alguns coágulos minúsculos e o nariz ainda escorre desenfreadamente.
Sente-se feia, desfigurada.
Pega a cestinha de maquiagem e analisa o que poderia ser usado. Pó, base, blush, rímel, batom... está tudo ali, pronto para disfarçar os sinais de uma madrugada conturbada.
Ela resolve deixar a base e o pó para lá, e começa pelo blush.
Ele é de um tom de rosa avermelhado muito forte. Quando foi comprá-lo, escolheu-o justamente pela cor gritando - estava cansada de se sentir moribunda. Ela o passa em movimentos alongados pelas maçãs do rosto, tomando cuidado para não deixá-las com um aspecto artificial.
Depois abre o rímel "alongador", segura o pincel firmemente com a mão esquerda, abre os olhos, direciona-os para cima e envolve os cílicos em uma mistura escura e pastosa.
Para dar o toque final, o batom. Essa é de fato sua parte predileta. Ele é de uma coloração bem clarinha, porém brilhante, e em sua propaganda estava escrito "aumenta o volume dos lábios em até 70%". Então tira a tampa, gira a parte inferior do batom e o desliza sobre os lábio.
Por fim, passa seu perfume predileto: três borrifadas na região do pescoço e uma em cada pulso. Coloca seu brinco de bolinhas, arruma a franja lamentando-se, como faz diariamente, por não ter um cabelo liso.
Olha-se no espelho.
O reflexo mudara.
Ela adquirira um aspecto bem mais semelhante ao de seus dias de calmaria: está corada, os olhos parecem maiores e a boca está "volumosa" e com um brilho simpático. Está muito, muito bonita na realidade.
Vislumbra-se por uma última vez, arruma as coisas sobre a pia, apaga a luz e vai embora.
Era como se todas as suas dores e aflições tivessem desaparecido. Ela se sentia bem, sentia-se protegida pelo seu disfarce cosmético. Tinha certeza de que ninguém notaria que ela passara por maus bucados.
Com essa sensação ela saiu de casa e cumpriu sua rotina.
No fim do dia, retorna ao banho. Olha-se novamente: ainda está estonteante.
Pega o demaquilante e um algodão. Molha-o e começa a passá-lo pelo rosto. A cada movimento pelo rosto uma tira de coloração suja impregna o aglomerado branco. Faz isso repetidamente e, finalmente, volta-se para o espelho.
Agora, nada mais a protege... as marcas reaparecem e as olheiras estão ainda mais profundas.
Paralisa-se alguns instantes envolvida por aquela imagem.
Ela sofre de novo, chora mais uma vez.
Recolhe-se para o seu quarto de dormir, abraça os joelhos e, pela última vez, mergulha naquela já conhecida escuridão molhada.
É intrigante observar a superficialidade volúvel e notar que, mesmo nela, certos sentimentos podem assumir uma profundidade impossível de se medir.
A dor é, de fato, inexoráverl.

1 comentários:

Giuliano Vidotto disse...

é a incorporação de uma personagem? :P só pode ser