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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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sábado, 22 de agosto de 2009

http://www.youtube.com/watch?v=gSPfwCZchhg
Grace is Gone - DMB


obs: Anônimo, quem é você?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Confissões Adjetivas


Se bem que, para começar, não poderia querer definir a diferença entre o dito “certo” e o “errado”, muito menos estabelecer estreitamento na relação – desejada por todos, então, inexistente – entre tais pontos que a eles lhes cabe a posse.
Ocorreu-me essa ideia quando divagava, aguardando impaciente pelo sono que não vinha, sobre o que fiz ontem – ou há muitos meses atrás – mas que se mantém palpitante na memória de tal modo a se arrastar ao presente e tomar-me conta por inteiro: desde reflexões sobre o que foi feito, como novas atitudes em relação a velhos acontecimentos.
Nesse cenário, pus-me a tencionar sobre o que fiz – e assim deixei simplesmente feito-, e sobre o que fiz e assim não o devia. Este caso, no qual há a exigência da mudança, atingiu-me ao peito com estranhas sufocações e inquietantes culpas de consciência: e então a mim a sentença: erraste!
Mas como poderia ter, assim, feito?
Sei bem ter contrariado a todos os conselhos e conceitos me empurrados goela à baixo quando golfei-os violenta e porcamente sobre as faces julgadoras que se postavam rigidamente diante de mim. “Mas o que havia para ser feito?” Pensei. E então, veio-me a segunda frase: fizeste o que era certo para ti!
E assim volto ao primeiro parágrafo dessa escrita auto biográfica e quase inconsciente: de que profundezas obscuras desenterrei tais adjetivos: certo e errado? Oh! Já estou errada: não poderiam jamais prover de algum lugar profundo qualificações tão superficiais. Sendo assim, refaço: de que superfície esgarçada retirei os conceitos do maniqueísmo? Ah, sim. Agora me parece melhor – quase certo, contraditoriamente.
Sem mais delongas, volto-me ao meu passado tão presente e desejo, ainda assim, ter agido diferente. Não por força do erro ou do acerto, mas sim pela irrevogabilidade que a constante mudança impõe ao meu ser e, sendo assim, é a causadora de profundos arrependimentos e inquietações. Aquilo que, outrora, fora considerado inequívoco, agora se mostra a mim como realmente era: nada, senão inequívoco.
No entanto, no escorrer dos minutos desse tempo que se arrasta, passei a enxergar pontos de equívoco em um todo sem enganos. E não culpo a isso as transgressões temporárias que afetam se não somente a mim, eu que por elas sou susceptível ao encontro e influência.
Eu que tão frágil entrego minhas noites ao mais profundo e inerte devaneio, esse que não é outra coisa além de um reflexo embaçado dessa alma que de límpida e rutilante não há nada: no seu íntimo ela é envolta por uma densa neblina que já não tenho conhecimento se por lá sempre esteve, ou se se agarrou às paredes de minha consciência e pensamento de um modo penetrante.
Veja só!
Já estou eu, novamente, fazendo uso de adjetivos essencialmente antagônicos na tentativa de expressar o que abrigo em mim. Desculpe-me pela falha!
Creio ser uma pessoa adjetiva. Qual outro seria o motivo de tanto utilizar predicativos?
Não que essa afirmação, seguida por uma pergunta, exclua por completo a possibilidade de me ser apenas familiar o hábito de discorrer exaustivamente sobre qualquer questão (seja ela ignóbil ou não). Só me parece mais sonoro e respeitoso a mim dizer que sou adjetiva.
Aliás, é um belo adjetivo dizer-me adjetiva.
Estranho.
Não são apenas os minutos que se escorrem com a vivência: também sinto meus dedos pulsarem inconscientes. Será que finalmente saí de mim? Ah, creio que não, infelizmente. Mesmo que saída tenha sido sempre o que procuro.
Saída não, fuga.
E é fugindo de mim que me calo na noite, em sua calada, para tentar encontrar escapatórias, encontros, despedidos e cumprimentos que não cabem apenas aos caminhos do caso: são propriedades minhas. E não é, se não por isso, que encho meu eu com tanto remorso e tanta solução para tal: primeiro com o errei, depois com o errei por isso ter sido o certo, e, por fim, convencendo-me de que nada pode ser tão, tão antagônico e sem sentido assim.
Mania estranha essa minha de achar causa e efeito pra tudo. Justificativas que cabem em si – e só em si, e logo não me alcançam, pois no meu íntimo continuo a perguntar: Por que fizeste isso, criatura?
“Está feito”, é a resposta do meu eco nada sonoro a mim.
É, está feito.
Mas não nas entranhas da noite.
Elas me são amigas e conselheiras: maiores provas de compaixão que já que recebi. Não a compaixão de Kundera, dizendo que ela atinge a todos de forma irreversível, e sim a verdadeira compaixão: aquela que é marginalizada, sufocada e oprimida.
Então, é assim que me despeço: sem um simples “até” ou um solene “adeus”, mas apenas com um copo de suco de maça à mão, um pijama a me cobrir o corpo, a visão da cama em minhas vistas e a certeza de que mais um momento amigo, apesar de angustiante, está por vir.
Finalmente vou me deitar.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Hoje eu acordei cansada.
Do quê eu não sei direito, mas foi assim como me levantei e assim que estou agora.
Não é um cansaço físico, aliás eu estou quase muito bem nesse aspecto (apesar dos quilinhos indesejados).
Acho que eu acordei, mesmo, é exausta de mim.
Nada de uma exaustão depressiva, lamuriante, chorosa e etc. Ela é entediante.
Ela faz com que a realidade seja indiscutivelmente monótona, e isso porque a minha imaginação já foi muito recheada com todos os tipos de cenas fantásticas vindas de livros, filmes e sabe-se mais lá mais do quê.
Calma, explico: acontece que eu não consigo me prender aqui.
"-Aqui aonde?"
Aqui, bem aqui. Nesse chão que todo mundo (literalmente) pisa todos os dias.
E então eu fujo.
Fujo metaforicamente, claro. Mas às vezes parece bem real, se quer saber.
E eu fujo sempre, pelo menos uma vez por dia, e o faço por ser de bem fácil acesso, já que é muito, muito simples inventar aquilo que eu bem entender.
Invenções inacreditáveis, sempre. (Agora é a hora quando eu agradeço aos "livros, filmes e sabe-se lá mais o quê").
Hoje, por exemplo, eu passei uma boa uma (numeral, não artigo) hora me visualizando com um violão, sobre um palco mal iluminado, cantando pra um público inusitado, com a exatidão da palavra. E depois, claro, fui acometida por uma cena de amor ao fim do espetáculo, afinal eu não consigo me mascarar como uma insensível-auto-suficiente-sem-coração para mim mesma, somente para os outros, e olha que nem é sempre que disfarço com sucesso.
O problema é que, depois dessa uma boa uma hora, eu volto a lembrar de que não toco, não canto, não estou em um palco - só sobre minha cama - e que, infelizmente, o meu vizinho não é o galã dos meus devaneios.
E então tudo fica pequeno, miúdo, sem graça.
É claro que eu não espero, ou melhor, não posso esperar que as minhas loucasidealizaçõessemsentido (escrevo tudo junto por se tratar de uma única coisa) concretizem-se de um dia por outro. Meio como água pro vinho e migalha pra baguete, sabe? Não existe, não dá.


Maaaaaaaaaaaaaaaaaas (sempre TEM que haver um porém - ou um maaa(...)aas, no caso, senão não sou eu) a i n d a tenho "esperanças" (?) na realidade, já que, afinal, tudo o que eu sinto quando sonho acordada nada mais é do que uma sensação também não-realizada sendo que o que eu posso sentir enquanto não sonho e continuo acordada não é apenas real como também palpável.

Faz sentido, não é?

Espero que faça.




sexta-feira, 19 de junho de 2009

E ela espera.
De novo.

Sua vida inteira havia sido uma constante espera, mesmo que ela não tenha se dado conta disso. Esperou pela primeira boneca, pela primeira maquiagem, pela autorização dos pais para fazer o segundo furo na orelha, esperou pelo primeiro beijo – como esperou! – , esperou que alguém lhe dissesse que todos os boatos sobre fadas serem falsas eram mentira e, quando eles não disseram, ela se desesperou. E depois só esperou o desespero passar, e realmente acreditou que ele tenha passado. Mas será que ele passou?
Depois, ela esperou pelo pedido de namoro. Uma vez. Duas, três. E muitas outras vezes. Até que um aconteceu e a fez perceber que namorar não era exatamente aquilo que ela esperava. Então foi embora e esperou a mágoa passar. Essa passou, cicatrizou, mas deixou uma marquinha branquinha, bem fininha, quase imperceptível, mas que estava lá.
Aí ela esperou pela lista. A lista de aprovados no vestibular, a lista de empregos, de promoções de viagens, de carros e imóveis a venda. Esperou pela inspiração pra fazer a tatuagem certa. Quando teve a ideia perfeita, mostrou-a à mãe, esperando pela reprovação. Não a recebeu. Estranhou. Aceitou feliz. Olhou pra irmã, esperando que ela lhe dissesse “uau, que legal”, ou algo assim, e ela disse exatamente isso. Que bom que disse.
Uma vez. Duas vezes. Três vezes. Muitas vezes. Ela esperou e esperou pelo homem dos seus sonhos, até que um dia ele apareceu, e no outro ele se foi. Aliás, não foi ele que se foi, apenas o sonho tinha mudado. Nascera um outro, bem bonitinho e gordinho, de perninhas flácidas. Chamava-se Alice.
Então, o sonho foi crescendo, e ela esperando que ele pedisse a boneca, a maquiagem, o segundo furo, escondesse o primeiro beijo. Esperou que ele se tornasse um sonho meigo e doce. Inteligente, bem educado, culto. Afinal, quantas horas ela havia passado apresentando livros e autores e compositores e instrumentos e quadros a ele? E o sonho cresceu. Ficou bem grande. Uns 55 quilos, 1,63 metros. É, já era maior do que ela. E ele não era tão culto assim, nem tão meigo. Mas era engraçado, muito feliz. Trazia-lhe mais alegria do que poderia prever.
Depois de tudo isso, ela esperou a aposentadoria: e ela chegou! Guardou o dinheiro e esperou o verão para ir a um lugar paradisíaco fugindo do mundo. Mas o seu salário não era tão grande assim, então ela esperou uma boa promoção para parcelar em 12 vezes sem juros sua viagem de 15 dias para X. E ela esperou pelas semanas. E nas semanas, esperou que cada dia se arrastasse como três. E esperou conseguir fugir. Não fugiu, Voltou morrendo de saudade de Alice.
Do que mais poderia ter sentido saudade?
De si, talvez. De tanto esperar pelos outros, talvez tenha esquecido no caminho, derrubado, por acaso, uma parte importante que compunha seu ser. Ou não. Ela não sabia. Nem a gente sabe.
Mas, enfim, ela voltou para Alice.
E esperou.
Esperou pelo seu abraço. E o recebeu bem apertado. E, então, toda a espera de uma vida toda valera apena.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Os lineares são sempre muito estreitos, curtos demais. Estar sobre um – ou vários – é mais do que andar em uma corda suspensa a infinitos metros de altura em relação ao chão: é ter as pernas bambas. Constantemente bambas. E tê-las nesse estado é uma espécie de auto-suicídio, pois a escolha de estar prestes a desabar é exclusivamente sua.

Dizem que as pessoas são loucas: pura verdade.

Todas temem a morte, mas não por amarem demais a vida. Acho que do quê elas realmente gostam é do perigo, do êxtase por ele oferecido. É isso aí, nada como olhar para os próprios pés e ver um mar de arranha-céus explodindo, eclodindo abaixo de você. E o melhor – ter plena consciência de que, a qualquer momento, aquilo tudo pode se destroçar.

Eu estou sobre uma linha manca. Sobre pernas finas e fracas. Ou seria o contrário? Não importa. Ambas podem arrebentar a qualquer momento. Elas estão fundidas - quentes, de um vermelho brilhante e flamejante. A fumaça se solta e chega até meu nariz. “Cheiro estranho, mas não exatamente desconfortável”, penso eu.

Cada passo em direção ao lado oposto sentencia o afunilamento da já tão sensível ponte.
“Íngreme, Íngreme. Deve doer desabar”.

No entanto, sinceramente, não há muito com o que se importar. Cada um está perdido dentro de si e de suas complexidades – ou simplicidades, por que não? E é exatamente nessa perdição que se sustenta uma linha concreta, sem risco de ruptura: a certeza de não ter escapatória.

“Não sei se eu tenho o que quero ou se me agarro àquilo que preciso.”

Mas o importante mesmo é se agarrar muito, muito forte, com unhas e dentes e dedos e pernas e braços. Pois, assim, se sabe: não há como cair.
Dias que parecem tantos e que são tão poucos e frescos

domingo, 19 de abril de 2009

E P I F A N I A !

terça-feira, 7 de abril de 2009

"Isso não é homenagem àqueles que amam, mas um luto aqueles que desmerecem corações.Talvez você tenha medo de acreditar que um dia pode ser feliz e por isso viva em um mundo virtual. Lembrando que ser virtual não é nada virtuoso; acredite no que quiser; mas eu, o iludido mais lúcido que já conheci, acredito piamente que quando o sentimento transcende a racionalidade a existência adquire sentido. Por isso eu acredito no amor. Por isso eu acredito no sorriso. Por isso eu acredito que você ainda vai abrir seus olhos e desmerecer boa parte da razão por te guiar."
Ciranda e Cinderela

segunda-feira, 6 de abril de 2009

"Naquela noite que parecia sem fim, notícias ruins acumulavam-se no ar. Não me julgue pela minha resposta instantânea ou reação inesperada, o dia que tive não foi dos melhores. Tenhas certeza que mal desejo para alguns, mas para ti, nunca. Não te desesperes por minhas respostas monossilábicas e frases secas, eu sou assim em algumas ocasiões e, quase sempre, sem explicação.
Não te atormentes pelo que penso ou sinto, sou egoísta demais, o que te dá o direito de seres comigo também, mas tenho certeza que não serás. Acho que a palavra conformismo foi mal usada e um pouco exagerada, digamos que acostumar fica melhor colocada.Entendas que às vezes sou irracional e desumano, maneira de esconder o quão frágil posso ser por dentro, o quanto de falar que não sinto, sinto duas vezes mais. Não acredites naquele “Eu” que diz que nunca amou ou irá amar, talvez ame ou já tenha amado, mas ainda não hei descoberto."

Você já me pediu desculpas, mas acho que agora eu é que devo pedir.
Eu me sinto tão segura em relação a nós, ao que diz respeito ao que estabelecemos e construímos que acabo aplicando a isso uma ideia de indestrutibilidade.
Talvez eu devesse perceber que toda essa segurança é unilateral, ou então, quem sabe, que eu fantasie demais sobre a ela.
Não queria ter te decepcionado, juro que não. Eu simplesmente confiei demais em mim, no que eu havia introjetado em você.
Desculpe mesmo, Bi. De verdade.
Se eu fiz o que fiz foi por crer que poderia fazer sem danos.
Só peço que você entenda que tem certas coisas que eu PRECISO fazer, DEVO e talvez até QUEIRA. Eu sou assim: preciso quebrar a cara.
Acho que isso parece um pouco com você, não?

Bi, é homo, eu sei. Também sei que você não vai gostar, mas eu simplesmente não aceito a ideia de ficar sem você.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

All you need is love, Beatles.
Uma música agradável e capaz de assumir uma identidade particular para cada um que a ouve. Acho que disso ninguém discorda. Inclusive Fabrício não discordava, já que esses foram os motivos que o levaram a escolhê-la como toque de celular. Ele não era o tipo de cara que recebia muitas ligações, então gostava de ter esses raros momentos assinalados por uma canção tão gentil.
Gentil? Não às 3 e pouco da manhã.
O dia de ontem havia sido difícil, portanto vou poupar a você, leitor, a chateação que lhe causaria ouvir os motivos para tais dificuldade. Só vou dizer-lhe que uma série de imprevistos assolou o nosso pacífico protagonista. A propósito, não era 'pacífico' o seu principal predicativo, outros poderiam ser citados: resignado, passivo, pouco efusivo e... entretanto, doce. Diabeticamente doce, se é que isso é possível. Todo esse seu açúcar, no entanto, abstinha-se da degustação alheia. Se é que você me entende, o Fabrício era um sujeito um tanto enfastiado dos "agrados" de terceiros.
Voltemos ao celular, pois enquanto teço infindáveis linhas descritivas, o aparelho telefônico mantém-se vibrando, tocando e emanando uma série de luzinhas que se chacoalhava conforme o ritmo Beatleano, tudo isso aprisionado no tempo narrativo. Bem, envolto pela penumbra que, aos poucos, dissipava-se diante da dança luminosa daquela joça vibrante, F. estendeu os braços bruscamente até o criado-mudo e agarrou o celular.
1 chamada não atendida.
Ele encarou a tela do eletroeletrônico: ele, acusando-a por interromper seu sono; Ela, chamando-o de displicente por ter perdido o telefonema. Uma onda de indignação percorreu os músculos de Fabrício. "Essa hora da madrugada?!" Enraivecido, virou-se para o lado e tentou entregar-se aos deleites do sono.
...
Mas ele não conseguia.
Quem teria ligado àquela hora, e para quê?
Quase que contra sua vontade, desvencilhou-se das cobertas e sentou-se pesadamente sobre a cama. Coçou os olhos e amaldiçoou sua maldita curiosidade!Exausto, encarou o celular. Sem hesitar por mais um minuto que fosse, tomou-o em suas mãos e clicou na primeira tecla que se confrontou com seu dedo. A luz fez com que seus olhos ardessem, e ele recuou por um breve momento, somente o necessário para se acostumar àquela claridade. Então, lá estava gravado o número que ousou interromper seu descanso. Um número desconhecido.
"Droga, droga, droga, droga...!", lamuriava-se Fabrício.
Percebendo que não conseguiria retornar aos seus sonhos tão facilmente, saiu do quarto, ainda com o telefone em mãos, e dirigiu-se até a cozinha. Lá, ele encheu um copo com água e a tomou em apenas um gole. Sentou-se à mesa. Foi invadido por uma sensação de frustração. Seus dedos apertavam o copo até ficarem com as juntas brancas, enquanto pensava no seu fracasso. Em toda aquela merda de fracasso que o rodeou durante todos os seus dias. Em toda a merda que viria a rodiá-lo. Vai ver que ele também era um merda, no fim das contas, e nada seria mais correto do que estar envolto por seus semelhantes.
Os acontecimentos do dia de ontem açoitaram os seus pensamentos. "Desgraça".
....
Levantou-se às 8h sentindo todos os seus nervos latejarem pelo cansaço acumulado. Pegou uma roupa qualquer de dentro do armário e vestiu-se pesadamente. O nosso pobre Fabrício estava tão desatento, leitor, que não se deu conta que a roupa escolhida era a mesma que vestira ontem.Saiu de casa trôpego, entregando mais um dia de sua vida à rotina. Ah, leitor, e que rotina chata era aquela! Chata a tal ponto de não merecer outro detalhe além desse adjetivo. Sendo assim, desse modo ficará: chata e nada mais. No lugar dessa descrição entediante, caro colega, vou dedicar-me a contar, do modo mais fiel que for capaz, a confusão que se estabeleceu na cabeça do rapaz: sentimentos e pensamentos mesclaram-se com o tédio do dia-a-dia e geraram um descontentamento nunca antes presenciado pelo pacato moço. Ele não podia mais suportar tanto descontentamento, tanta cobrança, tanta monotonia... tanta gente chata e ordinária ao seu redor!
Desejava fugir, esconder-se, libertar-se...!
Porém, ele não faria isso, obviamente. Era fraco demais. Ele sabia; todos sabiam, e agora também, você sabe. Aguentou mais aquele dia, fazendo o possível para desamarrar o nó em sua garganta. No entanto, afroxou-o apenas. Voltou para casa tarde da noite. Havia cumprido suas obrigações estudantis às 18h, mas por algum motivo não queria voltar para aquela cama, para aquela sala, para aqueles espelhos no corredor. Ele resolveu que iria andar de carro... andar até já ter decorado todas as pixações nas paredes paulistas. Ele não decorou, como já era esperado, e retornou para sua moradia quando um dos ponteiros do painel indicava que a gasolina estava acabando. Entrou na garagem, estacionou o carro, pegou o elevador e então apertou o número 17.
Adentrou a sala e, pela primeira vez desde que ganhara aquele apartamento, reparou na sombra produzida pelos objetos que compunham a mobília. Sentou-se ali mesmo, naquela primeira poltrona, ao lado da porta. Atirou seu corpo sobre ela, e lá permaneceu, imerso no silêncio.
Sem vozes, buzinas, sinais... sem Beatles, de novo.
...
Outro dia sem Beatles.

...sem Beatles;

...sem Beatles.


"Que os Beatles morram!"



...Lá estava o Fabrício, mais uma vez naquela poltrona, remoendo insatisfação. Mas não reagia. Sua passividade era grande demais para isso. Seu resigno o impedia de assumir a si mesmo que precisava de alguém.
...Alguém...
Quem?
Sentiu-se sozinho; uma sensação de gosto amargo. Amargura nunca antes experimentada. NUNCA. Pensou em si, pensou na merda toda e então cansou de pensar. Ele queria alguém, alguém pra conversar. Não sei se foi o impulso que levou Fabrício a fazer o que fez, mas o que importa é que o fez e ponto final. Ele pegou seu celular e ligou para o número desconhecido.
Uma vez; Duas vezes; Três vezes.
-Alô?
A voz era suavemente rouca, marcante e encantadora. Voz de mulher. Duas sílabas foram o bastante pra fazer com que ele se arrepiasse.
-Vo... Você me ligou há uns 3 ou 4 dias atrás, de madrugada. Eu me chamo Fabrício.
A voz calou-se por alguns instantes, então respondeu:
-Desculpe pelo incômodo, acho que liguei errado. Não conheço ninguém com esse nome.
-Ah... tudo bem então... eu só queria...- Fabrício se calou repentinamente. Estava decepcionado por ser engano. Queria alguém para compartilhar. "Mas como ousou ele, pessoa tão insignificante, pensar que alguém gostaria de falar-lhe?! Um idiota, isso sim! Um..." Seus pensamentos foram interrompidos quando a voz do outro lado disse:
-Sim?

-Não, nada. Desculpe. Tchau, obrigado.



E desligou.


Do outro lado da linha, a garota pôde ouvir o TU-TU-TU do telefone. Ela desabou, trêmula, sobre a cadeira da cozinha. A luz fraca refletia nos azulejos brancos, no granito da pia, no aço das cadeiras. Do lado de cá, Fabrício continuou no sofá. Apoiou a a testa nas mãos, e assim ficou, afundado no escuro da sala.
Cada um sentia de maneira particular os efeitos colaterais daquela ligação.
Entretanto, ela era quem sentia mais.Sentia não ter dito quem era; o que queria. Sentia ter permitido que as coisas permanecessem na inércia.Sentia não ter falado de seus sentimentos. Sentia o fato de que ele jamais saberia.
E ele não soube.







____//_____







Final alternativo:

Adicione ao final anterior:



Seguiu seus dias da mesma maneira com que havia sempre seguido. E assim foi, e assim é. Trocou o toque do seu celular por um daqueles "pipis" comuns. Esqueceu-se da música. Desfêz-se da doçura e lambusou-se num falso contentamento.Ela não ligou mais. Continuou com sua voz rouca, encantando multidões, sorrindo sempre. E continuou sem ele. Continuou sem nunca ter ousado interromper toda essa continuidade.E assim termina a histórias de 5 dias da vida de Fabrício. Ele fez outras coisas depois, e a garota do telefone também.Foram razoavelmente felizes, cada um com sua vida... diria que tiveram alegria na medida em que se permitiram tê-la. Mas, sinceramente... eu gostaria de saber o que teria acontecido se 'All you need is love' tivesse tocado apenas 5 segundos a mais.
Agora sei que esse é o tipo de música que só se toca uma vez.

sábado, 28 de março de 2009

"Oh, meu Romeu! Se me amas de verdade, dize-o sinceramente...
Oh, meu Romeu! Não julgues leviano este amor que descobriste na noite escura...
Oh, meu Romeu! A despedida é tão doce que o esperarei até o romper do dia...
Este botão de amor que floresce agora será uma linda flor na outra vez que nos vermos...
Oh, meu Romeu, abençoada noite, temo que seja um sonho, é bom de mais para ser realidade..."
Fala de Julieta;
Romeu e Julieta, Willian Shakespeare
Foto: Shakespeare in love

quinta-feira, 26 de março de 2009

a-
Ontem meu pai veio com uma história de "eu sei muito bem o que a-con-te-ce - ele foi muito enfático e pontual nessa palavra - nessas festas adolescentes que viram a noite...!" (bufadas) "Depois nós conversaremos, Mariana, e você me contará o que aconteceu por lá..." (expressão de você não me escapará)

Ainda estou pensando se devo falar pro meu pai que o Mário Bros (à altura da foto já sem bigode e chapéu) não se envolve sexualmente com ningué, que duendes não procriam com rainhas de copas (essas que, apropósito, moram num lugar bem longínquo chamado País das Maravilhas) e que garotas Anos 60 são muito antiquadas para sexto antes do casamento.
Ah... quanto àquele cara ali do lado... uhn, ele tava bem moderninho, né... poderia fazer o que bem entendesse. Mas essa parte eu omito.

Pois bem, acho que vou defender essa versão de "personagens são assexuados" pro meu pai, aí vejo no que dá.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Ela está parada diante do espelho olhando atentamente para todas as marcas de seu rosto. Observa com incômodo os efeitos causados pela choradeira da noite anterior: os olhos estão inchados, a pele possui alguns coágulos minúsculos e o nariz ainda escorre desenfreadamente.
Sente-se feia, desfigurada.
Pega a cestinha de maquiagem e analisa o que poderia ser usado. Pó, base, blush, rímel, batom... está tudo ali, pronto para disfarçar os sinais de uma madrugada conturbada.
Ela resolve deixar a base e o pó para lá, e começa pelo blush.
Ele é de um tom de rosa avermelhado muito forte. Quando foi comprá-lo, escolheu-o justamente pela cor gritando - estava cansada de se sentir moribunda. Ela o passa em movimentos alongados pelas maçãs do rosto, tomando cuidado para não deixá-las com um aspecto artificial.
Depois abre o rímel "alongador", segura o pincel firmemente com a mão esquerda, abre os olhos, direciona-os para cima e envolve os cílicos em uma mistura escura e pastosa.
Para dar o toque final, o batom. Essa é de fato sua parte predileta. Ele é de uma coloração bem clarinha, porém brilhante, e em sua propaganda estava escrito "aumenta o volume dos lábios em até 70%". Então tira a tampa, gira a parte inferior do batom e o desliza sobre os lábio.
Por fim, passa seu perfume predileto: três borrifadas na região do pescoço e uma em cada pulso. Coloca seu brinco de bolinhas, arruma a franja lamentando-se, como faz diariamente, por não ter um cabelo liso.
Olha-se no espelho.
O reflexo mudara.
Ela adquirira um aspecto bem mais semelhante ao de seus dias de calmaria: está corada, os olhos parecem maiores e a boca está "volumosa" e com um brilho simpático. Está muito, muito bonita na realidade.
Vislumbra-se por uma última vez, arruma as coisas sobre a pia, apaga a luz e vai embora.
Era como se todas as suas dores e aflições tivessem desaparecido. Ela se sentia bem, sentia-se protegida pelo seu disfarce cosmético. Tinha certeza de que ninguém notaria que ela passara por maus bucados.
Com essa sensação ela saiu de casa e cumpriu sua rotina.
No fim do dia, retorna ao banho. Olha-se novamente: ainda está estonteante.
Pega o demaquilante e um algodão. Molha-o e começa a passá-lo pelo rosto. A cada movimento pelo rosto uma tira de coloração suja impregna o aglomerado branco. Faz isso repetidamente e, finalmente, volta-se para o espelho.
Agora, nada mais a protege... as marcas reaparecem e as olheiras estão ainda mais profundas.
Paralisa-se alguns instantes envolvida por aquela imagem.
Ela sofre de novo, chora mais uma vez.
Recolhe-se para o seu quarto de dormir, abraça os joelhos e, pela última vez, mergulha naquela já conhecida escuridão molhada.
É intrigante observar a superficialidade volúvel e notar que, mesmo nela, certos sentimentos podem assumir uma profundidade impossível de se medir.
A dor é, de fato, inexoráverl.

terça-feira, 24 de março de 2009

(Em relação ao texto "O Grito")

Depois de ler esse texto, uma onda de pseudo-esperança percorreu o meu corpo por um longo e prazeroso tempo. Ele é o tipo de crônica com a qual pouca gente concorda, mas que todo mundo gosta .
Não gosta por apenas gostar, mas pela inegável necessidade de que nós, pessoas, temos de sempre nutrir e acariciar aquela parte que nos renova, que nos coloca de pé. O ser humano é (bem, pelo menos EU sou) dependente da renovação - ou do mero reabastecimento - de suas crenças, pois somente elas são capazes de transformar uma realidade massante e irremediável em algo potencialmente diferente.
Quando eu leio que algo grita dentro de mim, acabo me transportando para um local onde as regras são feitas e estabelecidas por mim. Por lá, eu posse ser quem bem entender e, quando sou quem eu quero, me torno alguém inabalável, iderreubável, digamos. Eu simplesmente estou no controle e nele permanecerei.
No entanto, esse Texto, o da Martha, cutucou em mim uma história que, diariamente, eu tento deixar clara e formar uma opinião sobre. Trata-se do tal do maniqueísmo. Será que é realmente possível considerar que existe uma verdade única e absoluta? Dizendo que sim, aceitamos a existência do bom e do errado, do bonito e do feito, não mais em formas subjetivas, mas sim em formas pontuais e universais.
A todo momento eu me deparo com duas versões, duas verdades. Eu assisto à mudança de padrões: posso ver o belo ser transformado em feio, assim como o certo se tornar errado. Torno-me telespectadora de mim mesma em momentos nos quais atuo de maneira que não faria há um ano atrás.
Estou em constante mudança, incorporo-a com propriedade. Para a mudança, na mudança e durante a mudança não há limites excludentes. O colorido mistura-se com o incolor, a maldade é causada pela bondade exagerada e a loucura é causada pela instrução em excesso, o que afasta a alienação. É-se forte o bastante para suportar a insanidade, porém muito fraco para afastá-la.
Há algo que também grita dentro de mim. Não sei se é a verdade, a indecisão ou a mentira, só sei que faz os meus ouvidos doerem e o corpo latejar. Há algo que esfrega pelos cinco sentidos que eu não sei o que fazer; se ajo, foi por mal. Se calo, foi por receio. E o que faço por bem?
Mais uma vez, algo está gritando.

Com sua licença, vou tentar alcamar toda essa histeria.

sexta-feira, 20 de março de 2009

O Grito

Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.
Sabemos, sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar esse grito com conversas tolas, elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe em nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita. [...]
A verdade grita. Provoca febre, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona e finge esquecer. Mas há uma verdade única : ninguém tem dúvida sobre si mesmo. [...]
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe. [...]
Marta Medeiros

quarta-feira, 18 de março de 2009

E o quarto sufocara. A respiração parecera ser reprimida lentamente. Fora como se os brônquios, vias, pulmões e todo o resto houvesse se fechado. A visão, latejante, ardera. Os olhos vermelhos marejaram-se pouco a pouco. Ali tudo fora pesado, sóbrio demais, tenso em excesso. As paredes diminuíram lenta e desconfortavelmente num ritmo descompassado. Agoniados, aqueles dois pares de olhos esvaziaram-se e inundaram-se periodicamente, sem nenhum intervalo destoante. Fora aquilo, e o que mais? Só aquilo, talvez.


...

As mãos entrelaçaram-se, quase que lacivas. Inicialmente, ela apertou os próprios dedos pensando ser os dele. Mais tarde, segurou outras mãos, mas que ainda não o pertenciam. Os lábios roçaram-se despudoradamente, aquecendo-se. Os corpos se tocaram de modo frenético, ofegantes, descompassados. Os corações acelerados tamborearam em uníssonos particulares. Estreitos. Estreitas. Sem mais espaços. O calor subiu, flamejou, queimou cada extremidade daquele, então, único ser. Enfim, o ardor.

...


Acorda no meio da madrugada, incomodada com o silêncio. Ao lado os cabelos castanhos repousam languidamente sobre os lençóis bagunçados. Senta-se e observa. Vê aquelas paredes tantas vezes confidentes e que, agora, lhe parecem opressoras, mostrando-lhe forçosamente aquele arfar de outrora. Segura as mãos do outro e as acaricia. Finalmente pode senti-las no seu emaranhado particular. Porém, aquilo que se apresenta de si e sobre si já não diz mais respeito a ela.
Recolhe as roupas, espalha alguns cacos, e, finalmente, vai embora do seu quarto de dormir.